Tratamento da SOP sem anticoncepcionais?

Estudo avalia, durante 10 anos, o uso da metformina em uma população de mulheres com SOP

Quando perguntado sobre como substituir o uso de anticoncepcionais, respondo que uma boa opção é a metformina, que não evitará uma gravidez, mas chegará mais perto de um verdadeiro tratamento. Além disso a metformina ajudará a evitar complicações que os anticoncepcionais não conseguem prevenir, muito pelo contrário, podem predispor à resistência à insulina, principal fator de risco para o diabetes.

Por quanto tempo podemos manter o tratamento com a metformina?
O tempo necessário.
Para corroborar com tudo o que foi dito acima, estudo atual de Jensterle et al (2019) envolveu 159 mulheres com SOP e avaliou o uso de metformina durante 10 anos para o tratamento deste transtorno.

O que os autores notaram deste uso tão prologado de metformina entre as pacientes com SOP?

🔹 O uso da metformina foi usado em pacientes com glicemia normal, com sobrepeso ou obesidade e resultou em significante redução ou estabilização do índice de massa corporal, ou seja, as pacientes emagreceram ou mantiveram o peso;
🔹 Significante melhora da regularidade menstrual;
🔹 Melhora do perfil androgênico, com diminuição da androstinediona e testosterona total, hormônios, quando altos, associados à acne, hirsutismo (excesso de pelos), ausência de ovulação e anovulação/infertilidade.
🔹 Baixa taxa de conversão do pré-diabetes em diabetes, servindo para prevenção contra essa doença (uma das complicações da SOP).

Referência bibliográfica:
Jensterle et al. Long-term efficacy of metformin in obese PCOS: longitudinal follow up of retrospective cohort. Endocr Connect. 2019.

Cúrcuma longa, mais um antioxidante no tratamento da SOP

Estudo atual avaliou o uso da suplementação de curcumina no nível de glicose, perfil lipídico e níveis séricos de PCR (marcador sanguíneo de inflamação) em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP).

Curcuma longa tem como princípio ativo a curcumina, pigmento amarelo característico da raiz do açafrão-da-terra. Atualmente, o extrato seco especializado da Curcuma longa como, por exemplo, o medicamento motore, é usado como anti-reumático, combatendo dores articulares. Contém um conjunto de substâncias denominadas curcuminoides, incluindo a curcumina, que devido às suas propriedades biológicas e farmacológicas, incluindo características antioxidantes e anti-infamatórias pode ser muito útil em doenças inflamatórias.

A curcumina influencia um amplo espectro de doenças, com efeitos protetores contra o câncer, a memóriadeclínio, doenças de Parkinson, dislipidemia aterogênica, distúrbios inflamatórios e osteoartrite. Há também evidências de seus efeitos hipoglicêmicos e no colesterol, benéficos em diferentes doenças em humanos e em vários modelos experimentais. Sohaeia et al (2019) avaliaram o uso de 500 mg, 2 vezes ao dia, em mulheres com SOP durante 6 semanas, em um ensaio clinico duplo cego placebo controle.

Os autores identificaram no seu estudo que a curcumina conseguiu melhorar significativamente a sensibilidade à insulina, provavelmente devido ao tratamento do estado de inflamação crônica subclínica resultante do estresse oxidativo (excesso de radicais livres). Obs: nunca se automedique. Procure sempre um profissional especializado.
Referência bibliográfica: The Effects of Curcumin Supplementation on Glycemic Status, Lipid Profile and hs-CRP Levels in Overweight/Obese Women With Polycystic Ovary Syndrome: A Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Clinical TrialSara Soha ei et al. Complement Ther Med. Dec 2019

Mulheres com SOP tem maior risco de trombose venosa profunda do que mulheres sem SOP?

Atualmente há evidências de que mulheres com SOP possuem risco aumentado para trombose venosa profunda (TVP) por alterações no sistema de coagulação.

Será que as evidências de risco aumentado de TVP em mulheres com SOP é realmente significante ?

Gariania et al (2019) , em sua revisão sistemática com metanálise, mostra que a mulher com SOP possui um risco 1,5 a 2 vezes maior de apresentar TVP, independente se usa contraceptivos orais combinados ou do excesso de peso.
Os autores defendem que a combinação de fatores de risco para TVP (contraceptivo orais combinados, Índice de massa corpórea – IMC e SOP) devem ser levados em consideração e discutido com mulheres que sofrem de SOP.
Os autores defendem que a associação da SOP com o risco de trombose venosa profunda poderia ser vista como um FATOR DE RISCO para trombose SEMELHANTE àquele encontrado entre às mulheres com SOBREPESO, IDADE > 35 ANOS e FUMANTES.

De acordo com os resultados do estudo, os autores recomendam evitar – como tratamento de primeira linha – contraceptivos orais combinados contendo drospirenona e acetato de ciproterona ( justamente os mais usados para diminuir a acne e excesso de pelos) e , caso optem por anticoncepcionais, usar os que possuam menos efeito trombogênico com baixa dosagem de estrogênio, levonorgestrel ou norgestimato.
De acordo com o estudo , a SOP (por si só) é considerado um fator de risco para a trombose venosa profunda e que pode piorar na presença de mulheres com sobrepeso, obesidade e resistência à insulina como em mulheres com SOP.

Na minha opinião, baseando-se no direito universal à informação a que todos nós temos, profissionais da saúde e portadoras de SOP, são fatos que devem ser transmitidos aos profissionais de saúde e ,principalmente, para as mulheres que, juntamente com seu/sua médico (a), possam decidir pelo tratamento que transmita maior segurança à ambos. Um exemplo é o tratamento não hormonal para a SOP.

Referência bibliográfica :
Gariania et al.Association between polycystic ovary syndrome and venous thromboembolism: A systematic review and meta-analysis. https://doi.org/10.1016/j.thromres.2019.11.019. https://www.elsevier.com/locate/thromre

Você sabia que a SOP pode se associar a várias doenças metabólicas, cardiovasculares e à doença autoimune da tireoide?

Quando o sistema imunológico ataca a tireoide, leva a uma inflamação desta glândula que provoca uma ruptura e resulta no excesso de hormônios da tireoide (hipertireoidismo). Ao longo do tempo, a inflamação impede a tireoide de produzir hormônios de maneira suficiente levando ao hipotireoidismo, como ocorre na tireoidite de Hashimoto.

A literatura mundial mostra que a doença autoimune da tireoide pode ocorrer em 18-40% das mulheres com SOP, dependendo do critério diagnóstico adotado e raça da mulher com SOP.

Um bom estudo de revisão sitemática envolvendo outros 12 estudos, divulgado agora em 2019, onde foram avaliadas 1210 mulheres diagnosticadas com SOP e 987 controles saudáveis, mostrou que a doença autoimune da tireoide foi observada significantemente em 26,03% da mulheres com SOP e apenas 9,72% das mulheres sem a síndrome.

O estudo ratifica o que diversos outras defendem: realmente a doença autoimune da tireoide é mais frequente em pacientes com SOP e pode afetar a função da tireoide.

Desta forma, o estudo, assim como outros, defende a importância de que todas as mulheres com SOP sejam avaliadas laboratorialmente tanto para a função quanto para a presença de auto-anticorpos contra a tireoide.

Referência bibliográfica: Association Between PCOS and Autoimmune Thyroid Disease: A Systematic Review and Meta-Analysis Mirian Romitti et al. Endocr Connect. 2018